segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

[Análise] Tristão e Isolda - Helena Gomes.

Título: Tristão e Isolda.
Autor: Helena Gomes.
Editora: Berlendis & Vertecchia.
Páginas: 232.
Ano: 2010.
ISBN: 9788577230273.
Sinopse: Esta é uma das mais belas histórias de amor e aventura de todos os tempos. Suas origens se perdem no tempo e remontam às narrativas orais dos povos celtas. A história desse amor intenso e proibido entrou definitivamente para a literatura quando, no século XII, foi escrita em forma de poesia. Diversos autores a trataram: Thomas, Béroul, Gottfried de Estrasburgo, Bédier, entre outros. Helena Gomes nos apresenta aqui sua versão criteriosa, contemporânea e instigante, feita a partir dos textos originais.






Você percebe que o mundo não é justo quando nasce e recebe o nome de “Tristão”; isso quando sua mãe se chama Branca-flor e o seu tio apenas Mark (apenas exemplificando que nomes ruins nascem somente da pura vingança). Aliás, essa é uma Análise da adaptação da história de Tristão e Isolda, de Helena Gomes.

E Bem-vindos ao primeiro post de 2015 nesse retorno triunfal depois do recesso de fim de ano. Let's Go!

O livro se trata de uma adaptação de uma antiga lenda celta, que conta a história do romance incerto e complicado de Tristão e Isolda. Mas por ser uma lenda medieval, difundida principalmente por meio oral, ganhou várias versões ao decorrer das décadas, até o século XII, quando ganhou várias poesias e canções, feito principalmente por trovadores para inspirar o romantismo do amor proibido. E por ter várias fontes, coube a autora Helena Gomes, como ela explica na Apresentação do livro; juntar as partes da história, avaliar as mudanças sem sentido, aparar as pontas soltas, cobrir os furos e assim transformar essa lenda numa grande história coesa e bem feita, e ela conseguiu.

A história é bem interessante; Você percebe bem as influências que a lenda ganhou ao passar dos anos e a ambientação, por ser no nosso mundo medieval “real” é bem legal, mesmo a história sendo bem menos realista e suja como as obras do Cornwell, principalmente pelo fato de ter o rei Arthur como referência de contexto político quase a todo o momento. E é muito interessante a maneira que ela encontrou de interligar as duas lendas.

Acompanhamos Tristão, filho de um rei morto e de uma rainha que também morreu após dar o parto. Momentos antes da morte, motivada pela tristeza que estava sentindo por ver seu marido ser traído e morto; decidiu dar o nome de “Tristão” para seu filho. (agora eu não sei se essa referência é uma criação da Helena, porque por ser uma lenda celta, a brincadeira do trocadilho não funcionaria, tanto que em certas partes ele é chamado de Tristan, que cabe mais no lugar que ele nasceu). Enfim, ele nasceu, mas foi criado por um cavaleiro qualquer lá, um tal de Sir Rohald, que o criou por ser fiel ao antigo rei.

Do outro lado temos Isolda, uma princesa linda e reluzente, que chama a atenção de todos que passam (só não para o transito, porque essa expressão não existia na época). Ela é filha do poderoso rei da Irlanda, e de uma rainha que todos falam que é uma feiticeira; dizem também que ela descende de fadas, e daí viria toda a sua beleza encantadora.
OK, OK. Rainha é pega com affair na floresta. EXCLUSIVO!
Essa história conta com um número razoavelmente grande de personagens; mas o que mais me chamou a atenção foi o próprio Tristão, e isso é até estranho, porque na maioria das histórias de fantasia, o protagonista é sempre meio chato, sem graça; mas ele não. O Tristão, com seu jeito calado e melancólico fez com que eu me identificasse foda com ele, assim toda a história se tornou mais crível. Ele não é aquele herói todo perfeito que supera as dificuldades, numa determinada parte da história ele até larga tudo e toca um foda-se para a vida. Você percebe que ele está numa deprê hardcore, e sente isso com ele. E depois as coisas não melhoram, como normalmente acontecem, seguem numa trilha de merda até o final derradeiro.

A escrita da autora me surpreendeu bastante, ela descreve de maneira leve e não se importa em encher linguiça com coisas desnecessárias. O modo de narração também é bem legal, com seus mini capítulos onde ela transita entre o ponto de vista dos personagens, às vezes cortando dezenas de vezes num mesmo capítulo, uma parada com um quê cinematográfico, com seus cortes rápidos e mini capítulos de um paragrafo.

O livro tem um ritmo excelente, dinâmico, sentimental e divertido. Ela não quer filosofar nem nada do tipo, mas apenas nos divertir e consegue magistralmente. Nós nos importamos rapidamente com os personagens; e toda a abordagem psicologica, entrando dentro das mentes de todos os personagens nos faz sentir que são personagens reais e complexos pra valer.

Eu me diverti muito lendo, o livro é curtinho, tem 231 páginas e pode ser lido facilmente numa tarde tediosa de domingo (numa sentada só, seja lá o que isso signifique).
Um lance engraçado é que na Apresentação ela fala que a obra tem uma pegada de ficção história, e conta com um POUQUINHO de fantasia. (como assim? Logo nos primeiros capítulos um Dragão ataca um reino, como isso pode ser um pouquinho de fantasia? Tem até mais fantasia que o Hobbit brincadeira, pessoal).

Enfim, esse livro é muito bom. Se você quer se divertir com uma história bem medieval, que trata também de politica e de tramas e conspirações entre vassalos; Se você quer algo na pegada de Game of Thrones (e tem até um Anão que é conselheiro do rei, maluco. Acho até que o Frocin foi uma das inspirações para a criação do Tyrion). Esse é seu livro, e não. Ele não é um daqueles livros românticos melosos, a trama romântica fica quase em segundo plano, enquanto as tretas medievais que todos adoram rolam em primeiro.

Dragões vermelhos, neblinas mágicas, uma encenação de Davi e Golias versão britânica. Um Tyrion filho da puta, vários plot twists, melancolia e depressão no final da leitura. Essas são as palavras que resumem essa obra. Leia!
Nota: ★★★★★★★★ (8/10).

ExPoiler - (Selecione a parte branca se você quiser ler minhas considerações com Spoilers):
E esse final, heim. Eu juro que pensei que ele acabaria a história com aquela Isolda Mãos-Brancas. Mas que merda seria isso. Um casamento nascido no vacilo. Seria muito escroto, mas ninguém poderia reclamar, já que tecnicamente já estava no título do livro, né? E o fim, com a morte dos dois, achei que encaixou perfeitamente. Aquela parte do conselho dos reis ficou meio mal explicada (tipo, se o exército Irlandês descobre que seu rei foi cruelmente assassinado, sem dúvida que um dos duques se aproveitaria para liderar a vingança, para ganhar moral e se tornar o novo rei. O fim do rei Mark foi bem legal, com ele se casando com a ruivinha caliente (que digamos, é bem mais legal que a Isolda). O fato do Rohald se tornar rei foi meio estranho, já que ele nem tinha sangue nobre. Partir de um cavaleiro para rei é meio falso demais, ainda mais que devia haver outros Barões ou Duques com maior pretensão e somente o fato de ter criado o Tristão não significaria nada, achei que foi uma maneira de tentar recompensar a fidelidade do Sir, mas ainda sim um lance sem sentido. Enfim, os Irlandeses são sempre filhos da puta, Arthur era fodão e a neblina, no fim, era mágica mesmo...

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